Uma
menina trabalhava, num barzinho, praticamente nua. Via-se-lhe toda fronteira
das coisas proibidas. A bichinha era mesmo fraca de pudor. Tinha até um risinho
enviesado no canto da boca, como se sugerisse uma safadeza carnal. Só não
andava completamente nua, porque a Polícia não consentia.
E
eu, namorador, frequentava o local sempre com uma menina diferente, de amigas a
namoradas. Naquele tempo, todo amostrado, levava uma carteira de cigarro no
bolso e bebia Brahma Chopp. Fazia pantomima,
erguendo o copo e dando baforada, querendo ser o Hamphrey Bogart, mas parecendo
um Don Juan de feira de mangalho.
Um dia, a atrevida veio-me e saiu-se com
essa: - Êi, mestre, o senhor gosta tanto de namorar, admira tanto mulher e
nunca disse nada comigo...
Aí, eu justifiquei: - Minha filha, se você
andasse composta, ocultando as partes mais desejadas, talvez me despertasse
mais apetite, me fustigasse a curiosidade. Mas, o que perguntaria, eu, sobre
seu corpo, se está tudo à mostra, se suas carnes estão estendidas nos tabuleiros
dos bares, na maior leviandade, aos olhos pidões da freguesia?
Sosígenes Bittencourt
2 comments:
Eis a diferença entre o nu pornográfico e a sugestão do nu, que é erótico. O nu pornográfico não nos permite pensar. Na sugestão do nu, cabem todas as fantasias.
Mente vazia é a gruta do Capeta. O Capeta não tem sono. É um inquilino indormido que fustiga suas vítimas com o tridente em chamas. Depois, arrebanha seus escravos para o pecado e a destruição da Obra Divina.
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