Saturday, September 05, 2015

NÃO RIA SE PUDER - Cachorro-quente



(Hora de brincar, brincar.)
O processo de favelização das cidades é irreversível. Foi numa praça de minha gleba natal que participei de um episódio tragicômico.
Estava cometendo a aventura gástrica de deglutir um cachorro-quente numa daquelas barracas tipo pronto-socorro de bêbado, quando me chegou um cidadão esfomeado, fugido do hospital, ainda com a vestimenta do açougue humano.
- Professor, me dá um cachorro-quente, que eu estou morrendo de fome.
- O senhor veio de onde, que está fantasiado de doente?
- Eu fugi do Hospital. Lá é muito ruim.
Na atmosfera, um insuportável bafo de múmia.
- Ô, dona Fulana, bota um cachorro-quente pra este cidadão.
A mulher adubou o 'cachorro', passou meia hora bisnagando tempero, botou até solado de sapato dentro. Aí, o doente olhou, abriu o pão, escavacou com o dedo, cheirou, fez uma cara enjoada:
- Ô, moça, eu não quero esse cachorro-quente, não. Tá cheio de cebola.
Irremediável abraço!
Sosígenes Bittencourt

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