Passa o Dia de Finados. Finda o Dia de Finados.
E ninguém vê finados. Porque finados findaram,
não têm hora, dia, tempo, mais nada...
Passa o Dia de Finados
tão rápido quanto fora a vida dos finados.
Ninguém desejaria que os finados voltassem
ao mundo para findar outra vez.
Já nos basta morrer uma vez.
Porque só os finados estão livres da morte.
Sobretudo, do medo da morte.
Seria suprema malvadeza do destino nos impor
mais de um fim, embora morra nossa infância,
nossa adolescência, nossa mocidade
e sigamos vivos, vivos até o fim derradeiro.
Passa o Dia de Finados.
E perpassam os finados que conhecemos.
Parece até que os vemos.
De preferência, sorrindo. O mesmo jeito,
a mesma voz, os trejeitos, o figurino.
Nós é que ficamos tão diferentes. Talvez,
nem soubéssemos conversar com os finados,
como antigamente.
Sosígenes Bittencourt
1 comment:
Acreditar em Deus e na Salvação da Alma não faz mal a ninguém. Contudo, o ser humano crê no limite de sua fé e descrê no limite de sua descrença. Não há homem sem fé nem fé absoluta. Sinônimo de ser humano é limite. A grande interrogação da existência humana é nascer sem pedir e morrer sem querer. Todo homem é um condenado à morte. E se fosse condenado a viver, um dia, num transe de desespero, inventaria a morte.
O filósofo alemão Nietzsche (1844-1900) dizia: "Temos a Arte para não morrer da Verdade." Deveria estar falando dessa fuga de si mesmo, do temor de encarar a Verdade, da qual o espelho é o maior reflexo.
Contudo, contra o medo da morte, a liberdade de não pensar na morte. Eu não tenho obrigação de pensar naquilo que só irá acontecer uma vez na minha vida. Depois, uma vez vivos no mundo, não tem mais jeito, o jeito que tem é viver.
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