Bichinho arreliado é o tal do aedes aegypti. Ob-reptício, nele cabem todos os adjetivos, inclusive os mais repelentes. Ardiloso e doloso, na sua forma, no seu jeito de atacar. A muriçoca é noctívaga e ainda executa uma sinfonia, anunciando o seu voejar lúgubre. O aedes pica de dia, veste meião alvi-negro e, diferentemente da maioria dos animais, é a fêmea que é perigosa. Enquanto o macho habita a flora, sugando o néctar do verde, ela bebe, vampirescamente, o sangue da vítima. Caprichosa, desova, preferencialmente, em água cristalina e estagnada. O seu ovo é larva, é pupa, é aedes aegypti!
Embora minúsculo, quase imperceptível, é animálculo potencialmente forte. Democrático, elege todas as classes sociais - os políticos é que se desentendem na disputa da cura de seus efeitos letais. Submete os humanos a toda sorte de vexame, debruçados sobre cisternas, revirando tonéis, pendurados em caixas d'água. Apavorados com as calhas, as lajes, vão emborcando latas e garrafas, catando lixo, do Grajaú a Humaitá, Gávea a Caxambi. Nem a cantora Joyce, canora, é poupada na Zona Sul do Rio de Tom, perfurada na pele, submetida a febre de 40 graus, entrevendo o Corcovado em sonhos. O seu ovo é larva, é pupa, é aedes aegypti!
Pica o ator Stênio Garcia, fazendo de sua rotina uma pura novela. Fere a ninfeta Ana Paula Arósio, lambuzando o seu sangue, destrona o momo do samba, prometendo singrar as águas de março, eleger-se o rei do rio. O ser humano parece um Siefried caduco, derrotado por uma revoada de Nibelungos. Só lhe resta uma nuvem de fumacê e acender uma vela de andiroba: para o aedes, ou o homem?
As suas Dengues podem ser Clássicas ou Hemorrágicas, conforme humilhe ou ameace de morte seus enfermos tontos, enjoados e febris.
Sosígenes Bittencourt