Sunday, October 02, 2011

Fala, Vitória

A última festa

Este é o portão da garagem da casa de minha genitora, professora aposentada, aos 76 anos de vida, enfrentando os achaques da velhice e naturalmente precisando de sossego. Sábado, à tardinha, o alvoroço era enorme por conta de festa que iria acontecer no Clube dos Motoristas O Cisne, quando 3 conjuntos se apresentariam, para lucro e distração de uns e insônia dos moradores do bairro. Um caminhão que carregava apetrechos para o local do evento, pilotado por um senhor completamente embriagado, veio de ré e enfiou-se no portão, danificando também o carro de minha sobrinha estacionado ao lado. Se o meu menino, de 14 anos, não tem saído da frente, hoje estaríamos contemplando seus retratos. O patetê já está nas mãos da Promotoria da Cidadania e nas Pequenas Causas. Não obstante, a festa rolou até às 7 horas da matina, sem Pai Nosso de penitência. O pessoal saiu na maior algazarra, bradando palavrões, esfregando as virilhas, urinando nas calçadas, deixando um vendaval de lixo no ar. Tubinho de loló, camisinha de vênus, copo descartável, caco de vidro, o diabo a quatro. Bendito era o Cabaré de minha mocidade. Nunca vi ninguém dar uma tapa num gato. Outro dia, deram um pau num adolescente na frente desta mesma garagem que a empregada passou meia hora esfrengando o sague coalhado da vítima. Por isso, acabaram com festa no Golden Gol e na AABB. A pergunta é a seguinte: Será que os promotores dessas festas gostariam desses expedientes na frente de suas residências? Esperamos que essa tenha sido a derradeira anarquia aqui no bairro.

Esperançoso abraço!

Sosígenes Bittencourt

1 comment:

Sosígenes Bittencourt said...

Eu também gosto de festa. Bebo e danço desde que me entendi de gente. No meu tempo, minha geração saía dos clubes, de madrugada, com a camisa enrolada no pescoço, e ninguém tinha medo de levar um tiro. O mundo era calmo, a vida sossegada. Só se tinha medo de assombração, alma do outro mundo. Hoje, os fantasmas são verdadeiros, sonhamos sendo linchados, assassinados, o pânico virou nossa sombra. Infelizmente, essa é a dura realidade. O Brasil mata 50 mil pessoas por ano e não está em guerra com nenhum vizinho continental, é guerra intestina. A questão não está nas armas, está na alma.
Apavorado abraço!