Estão danado me chamando para ir a Tamandaré. Não me chamem tanto para ir a Tamandaré. Ninguém é o mesmo diante do mar. Principalmente, eu, que aprendi a nadar em São José da Coroa Grande. Lá pro lado de Ipojuca, Rio Formoso, Serinhaém e Barreiros. Um dia, devo ter visto, da janela do ônibus, uma menina de saia plissada na frente de um colégio em Rio Formoso. Eram 6 horas da noite. Nunca mais fui o mesmo.
Não me chamem tanto para ir a Tamandaré. Uma vez, eu pulei de um barco, em São José da Coroa Grande, o calção voou e eu afundei nuzinho no mar. Ninguém é o mesmo, com tanto medo, ouvindo o marulho, no pé do ouvido, do mar.
Eu conheço Itamaracá. Reginaldo, o Rossi, andava por lá. Já degustei polvo ao coco em Xaréu, já cochilei na Praia do Paiva, era um lual, a lua espreitando a gente por trás do coqueiral.
Estão danado me chamando para ir a Tamandaré. Posseidon me acuda, Netuno me conserve. Eu nasci no interior da zona da mata, lugar de ruelas, becos sem saída, ladeiras, cheiro de pneu queimando, mingau de Arrozina, cães, gatos e cachaça. Praia é lugar sem fim, começa na grinalda do mar e vai além do horizonte.
Não me chamem tanto para ir a Tamandaré. Eu termino indo a pé.
Oceânico abraço!
Sosígenes Bittencourt
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