Manganês na Bahia e acocorados no chão.

Ultimamente, no lugar do convite para ver o que é que a baiana tem, a sedução é “o que é que a Boa Terra tem.” É que em Mapele, distrito de Simões Lopes, a 15 km de Salvador, deu manganês no chão. E nem que fosse comida, para um formigueiro humano acorrer ao local e acocorar-se para escavacar o chão. De longe, parecem homens-saúva, se lambuzando na labuta de encontrar o metal. E de tanto sonhar em transformar suas vidas, já fuxicam que há manganês nas ruas da Mandioca e Jenipapeiro. Infelizmente, Jorge, o Amado, está noutra dimensão, já nos braços de Zélia, não podendo datilografar o fato, todo de branco, com a sua vocação. Apesar de custar 70 centavos o quilo, Rosiane Pires, de 21, mulata do cabelo pixaim e nariz de porrote, morre de alegria com um pedacinho na mão: - Aqui, as pedras são maiores.
Já o pedreiro Josias Santana, de 34, reclama: - Somos pessoas excluídas.
Gente de toda a região, dia e noite, vibra a pá e a picareta à cata de manganês, preto e brilhante, para vender a sucateiro, para virar remédio, fertilizante, ou aço, conforme seja misturado ao ferro, na industrialização. O alvoroço é tão grande, que já quebraram uma tubulação, faltando água na cidade. Mas, o pânico é quando se fala na aprovação do Ministério das Minas e Energia. Coisas com o governo, o povo fica desconfiado que só. Gente do Departamento Nacional de Produção Mineral já andou por lá, tirou uma pitadinha e levou para experimentar, dizer se é jazida e quanto custa a mercadoria. Botaram até defeito, dizendo ser refugo siderúrgico descartado, abandonado no chão. Um perigo. Esmola grande, cego desconfia. Se for coisa cara e nobre, não é coisa de pobre. Aparece dono, máquinas, leis, salário mínimo e outras baboseiras burocráticas para tanger ou escravizar o povão. Tomara que não.
Sosigenes Bittencourt