Faleceu dona Ivone, viúva do meu tio Sócrates, conhecido como seu Tuxa.
Até mais, Ivone, talvez nos encontremos lá aonde fostes, talvez precisemos de teus ensinamentos, tão desacostumados com a morte.
Sosígenes Bittencourt
Quando falecem pessoas tão simples, tão despojadas de vaidade e ambição, como dona Ivone, sentimos um óbvio e natural desgosto da morte. Dona Ivone não fez nada na vida para morrer, era sem vícios, temente a Deus e amava a família. Sequer usufruiu os prazeres transitórios da vida que implicam em comprometimento da saúde física e mental. A facilidade com que sorria era oriunda da surpresa com a insensatez do dia a dia. Porque tinha moral, se surpreendia com a imoralidade; porque preservava a saúde, se surpreendia com os que se afogavam nos vícios; porque era comedida e econômica, se surpreendia com os que esbanjavam. Por isso, sorria, mesmo no sofrimento, porque nunca entendia como as pessoas mais normais, mais inteligentes, mais esclarecidas podiam cometer tantos absurdos, sem conseguir entender as coisas mais simples.
O falecimento de dona Ivone parece uma injustiça da morte, como se um adulto maltratasse uma criança. Nós sempre a relembraremos, exatamente pela simplicidade como levou a vida, o que é tão difícil para nós. Nasceu num dia como este, cumpriu com suas obrigações sem vaidade, amou incondicionalmente, abismou-se com as contradições da vida e faleceu, num dia como este, sem questionamentos metafísicos. Simplesmente faleceu, deixando-nos inconformados e desgostosos com a morte. Até mais, Ivone, talvez nos encontremos lá aonde fostes, talvez precisemos de teus ensinamentos, tão desacostumados com a morte.
Sosígenes Bittencourt
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