Monday, April 11, 2011

Congresso Internacional do Medo


Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio porque esse não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,

depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade

2 comments:

Anonymous said...

Excelente poesia! Drummond é fantástico. Dizem que a vida é um dilema, portanto, o medo pode prejudicar ou ajudar. Vai depender de como lidamos com as circunstâncias dessa vida fugaz. Se uma flor nasce medrosa; é sinal de que precisamos adubar a terra com justiça e amor. Nascente abraço.

Sosígenes Bittencourt said...

Do medo, podem emergir heróis, aureolados ou mortos. O herói é o protótipo do mártir. O medo paralisa e nos move. O medo é na alma, o corpo reconhece.
Drummondiano abraço!