Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Carlos Drummond de Andrade
2 comments:
Excelente poesia! Drummond é fantástico. Dizem que a vida é um dilema, portanto, o medo pode prejudicar ou ajudar. Vai depender de como lidamos com as circunstâncias dessa vida fugaz. Se uma flor nasce medrosa; é sinal de que precisamos adubar a terra com justiça e amor. Nascente abraço.
Do medo, podem emergir heróis, aureolados ou mortos. O herói é o protótipo do mártir. O medo paralisa e nos move. O medo é na alma, o corpo reconhece.
Drummondiano abraço!
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