No primeiro dia útil do ano, um casal anoiteceu se beijando. Inútil lembrar-lhes o cotidiano. Esqueceram até que mudaram de ano... Sôfregos, se abraçavam, se beijando. O Brasil deve ser um dos países onde mais se beija no mundo. Falta-se ao trabalho para se beijar. Vai-se ao trabalho para se beijar. Beija-se ao pingo do sol, no deserto, à beira-mar, assim haja quem se preste para beijar. Beija-se até sem beijar, mergulhado em sonho, de tanto desejar.
No primeiro dia do ano, um casal anoiteceu se beijando. A lua ia rápida, atravessando as nuvens, o aroma era de mato, de terra, de rio, como sói acontecer no Brasil. O palco talvez sugerisse uma peça musical à la Villa-Lobos, eivada de tantos arroubos.
No primeiro dia do ano, não cabia desengano, no espaço que estreitava o casal que anoiteceu se beijando.
Amoroso abraço!
Sosígenes Bittencourt
2 comments:
É incrível como o texto soa, às vezes denso, às vezes macio. Quando falo "denso", não sei bem explicar, mas seria a fluidez com que o texto vai inebriando nossos ouvidos; é bastante sonoro. Parece até João Cabral interpolando rimas; ou até mesmo Cruz e Sousa fazendo prosa poética com recursos estilísticos que os teóricos chamam de "assonância e aliteração". Figuras de linguagem? Deixemos de lado e abracemos a poesia que o resto prosaico.
Estudante de Letras é outra coisa. Além de sentir o texto, descreve o que sente.
Erudito abraço!
Post a Comment