Monday, March 17, 2014

No tempo de eu menino



Esse caderno é do tempo do ENSINO ANALÓGICO, do tempo da valorização da CÓPIA e do DITADO, da supervalorização da escrita manual. Foi quando eu aprendi a conjugar o verbo AMAR no Presente do Indicativo, com profª. Luzinete Macedo, na Escola Paroquial.
A pasta de couro cru conduzia pouca coisa, mas aprendíamos muito. Uma caixinha de lápis de cor, uma tabuada, algumas nuvens. Havia tempo para contemplar o céu.
Sou do tempo que havia tempo de acompanhar a réstia do sol e contar estrelas. Sou do tempo que o coral dos grilos executava a sonoplastia das estrelas.
Sou do tempo que criança brincava com o brinquedo, inventava brinquedo. Hoje, na era do controle remoto, a criança vê o brinquedo brincar. Porém, é preciso saber que o controle remoto é recente, e a sabedoria é remota.
A explicação é a seguinte: depois que DESINVENTARAM a infância, estenderam a ADOLESCÊNCIA, daí o adulto nunca ficar adulto, e sim, ADULTESCENTE. Comprometeram a criatividade e a maturidade do ser humano. É tudo obra do consumismo desenfreado. A criança já não sente graça em brincar, ela quer comprar. Os brinquedos ficam empilhados, e ela pedindo mais brinquedos. Não se leva uma criança para a rua sem ter de comprar algo para ela.
Sosígenes Bittencourt

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