Esse caderno é do tempo do ENSINO ANALÓGICO, do tempo da
valorização da CÓPIA e do DITADO, da supervalorização da escrita manual. Foi
quando eu aprendi a conjugar o verbo AMAR no Presente do Indicativo, com profª.
Luzinete Macedo, na Escola Paroquial.
A pasta de couro cru conduzia pouca coisa, mas
aprendíamos muito. Uma caixinha de lápis de cor, uma tabuada, algumas nuvens.
Havia tempo para contemplar o céu.
Sou do tempo que havia tempo de acompanhar a réstia do
sol e contar estrelas. Sou do tempo que o coral dos grilos executava a
sonoplastia das estrelas.
Sou do tempo que criança brincava com o brinquedo,
inventava brinquedo. Hoje, na era do controle remoto, a criança vê o brinquedo
brincar. Porém, é preciso saber que o controle remoto é recente, e a sabedoria
é remota.
A explicação é a seguinte: depois que DESINVENTARAM a
infância, estenderam a ADOLESCÊNCIA, daí o adulto nunca ficar adulto, e sim,
ADULTESCENTE. Comprometeram a criatividade e a maturidade do ser humano. É tudo
obra do consumismo desenfreado. A criança já não sente graça em brincar, ela
quer comprar. Os brinquedos ficam empilhados, e ela pedindo mais brinquedos. Não
se leva uma criança para a rua sem ter de comprar algo para ela.
Sosígenes Bittencourt
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