A
professora potiguar Amanda Gurgel tem razão. Dão-lhe um cotoco de giz e querem
que ela salve a nação. Ainda lhe pedem paciência. Num momento de microfone e
impaciência, abre o badalo e vira paladina de sua classe. Amanda toma 3 ônibus
para chegar à escola e não pode filar a merenda, porque é professora. Contudo,
é chamada a amar seus alunos, educá-los com disposição e bom humor, por 930
reais. Esquecem, os seus algozes, que AMOR SÓ ESPERANÇA: AMOR REDUZ; AMOR SÓ FRUSTRAÇÃO: AMOR ACABA. Não pode se
encolerizar, nem ser melancólica, tem de ser fleumática, calma. O resto fica
para os que mandam ter paciência. Os que se locupletam dos cargos que servem
para mandar ter paciência.
Mas,
se tudo não mudar, conforme sói acontecer, Amanda terá outros desgostos. Minha
mãe, por exemplo, aos 80 anos, paga imposto de renda. Que renda, se ela está
aposentada? Minha mãe paga juro sobre fatura, por atraso na entrega dos Correios.
(Melhor voltar à era da goma arábica e do telégrafo.) Quando tem festa, na rua,
minha mãe dorme sentada numa cadeira, porque o som é ensurdecedor e os meninos
pitam marijuana, imitam a cópula na vertical e vomitam birita com sarapatel nas
calçadas. Vive enclausurada, porque sobra meliante e falta Segurança Pública.
Amanda
tem razão, mas ter razão não basta, seria preciso gerar algum efeito, redundar
em mudança. Senão, a exposição de seus motivos vira mero direito de espernear.
Não vá servir para promover algum herói de última hora. Os heróis de
antigamente lutavam por uma causa, os de hoje usufruem a causa.
Indignado
abraço!
Sosígenes
Bittencourt
1 comment:
O médico, o advogado, o engenheiro, até o eletricista, o barbeiro podem cobrar pelos seus serviços. Sem falar nos políticos, que podem aumentar os seus salários. Só o professor é que não pode cobrar pelo seu trabalho. No Japão, o professor é o único profissional que não precisa se curvar para o imperador. Explicação? Porque numa terra onde não há professor, não pode haver imperador.
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