Costumo dizer que a gente só agüenta hacker e a máfia dos cartuchos, impressoras, esses bregueços, por causa da significação e importância da internet em nossos dias. O teclado do computador é a caneta do milênio. Suportamos a sacanagem das operadoras de telefonia celular. Há quem retorne da estrada, para pegar o celular em casa. Quiçá, quem se atire da janela do coletivo em movimento. Minhas colegas de ginásio da década de 60 estão todas vivas e me curtindo mais hoje do que nos idos de nossa adolescência. E nada mais nos promove tanto contato do que a internet. Redescobrimo-nos via Orkut e msn. Que graça, rever fotos de Maria das Graças, aquela boneca de cor morena e coxas roliças, dos tempos do yê-yê-yê. Maria Betânia, afogueada, falante, cabelos buliçosos e hálito cheirando a chicletes Ping-pong. Doraci, a menina do banco, toda no estrinque, rostinho arredondado, pernas torneadas, saltitante que nem um passarinho. Um dia, fomos comer jaca na cozinha da empresa. Eita vontade de beijar! Fosse nos dias permissivos de hoje, teria me atracado sem a menor cerimônia. Não, realmente não dá para viver mais sem essas agora musas, debruçadas nas janelas da internet. Eternizadas pela internet. Internetizadas. I can’t stop loving you. Por isso, agüentamos todos os inconvenientes dos que nos exploram, nos enganam e nos furtam. Hacker, esse pirata invisível e sórdido, antes mero vândalo, hoje assaltante digital. Impressoras e cartuchos, entupimento de cabeças de impressão, tintas que desbotam ao contato da saliva. Celulares, caixa postal, asterisco, jogo da velha, mentiras, OIs fora do ar e Claros às escuras. Porém, a culpa não é da ciência nem da tecnologia, a crise é de sabedoria. O mal pode usar o conhecimento, mas não é inteligente. Já dizia Goethe: Não há nada pior do que a ignorância ativa.
Sosígenes Bittencourt
Sosígenes Bittencourt
4 comments:
Sosígenes, duvido que alguém leia essa narrativa e não concorde com você. No meu ponto de vista, o celular é uma das invenções mais stressante em nosso quotidiano, sem falar que ele é um alvo precioso nas mãos daqueles que não necessitam ganhar a vida assaltando. Tudo tem seu preço e quem não quer correr risco não vai a lugar algum...
Enquanto lia, não pude conter o riso, que se misturava à saudade. Aqueles sim, eram bons tempos...
Um grande abraço!
Odeio esse vandalismo digital, essa pirataria sórdida dos que se aproveitam dos nossos sentimentos. Às vezes, dá a impressão de que estamos ferrados. Somos uns incuráveis apaixonados, nas mãos desses algozes. São morcegos. Sopram pra chupar. Lembra-me Drummond: Eta vida besta, meu Deus!
Mas, Nelson Rodrigues já nos advertia: Sem paixão, não dá nem pra chupar picolé.
Dora não só você como eu dei gargalhadas, que tempo bom que não volta nunca mais. Concordo plenamente com Sosígenes estamos em outra hera.
Eu não sei se seria capaz de conviver a paz de nosso tempo com o progresso de hoje em dia. Harmonizar a competitividade com a solidariedade.
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