Nos toscos degraus de um templo onde esmolavam,
três cegos de nascença, unidos, conversavam.
O primeiro dizia, com os olhos apagados,
cravados na amplidão dos céus alcandorados.
- Ai quem me dera a vista, ao menos um momento,
para ver o infinito, o azul do firmamento.
Como deve ser lindo o seu aspecto quando
surge o sol no horizonte e as nuvens se afastando.
O segundo cego falou.
- Quisera ver o oceano.
Dizem que ele possui um coração humano,
que soluça, alta noite, a olhar o céu distante,
da lua solitária o pálido semblante.
Se da sombra em que vivo, extraordinário pego,
me aclarasse uma luz, disse o terceiro cego.
- Não seria, decerto, o imenso azul da esfera,
nem o oceano que geme, ruge, se exaspera,
que iriam procurar meus olhos.
Oh, que ventura! Se liberto afinal desta masmorra escura,
e sem o grilhão deste cruel desgosto,
pudesse eu contemplar de minha mãe o rosto.
(Autor desconhecido)
1 comment:
Este é um dos mais bem escritos poemas que já li.
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