Monday, April 07, 2014

No tempo de eu menino - Lancheira




Isso foi no tempo da lancheira. Se levássemos pão com banana e uma garrafinha d'água, o pão era de trigo sem bromato de potássio, a banana sem agrotóxico, e a água, potável. Manteiga Turvo era comida de luxo. Ovo de galinha séria e leite de vaca decente. Nunca mais eu vi um maracujá-açu nem uma laranja-de-umbigo.
Antigamente, um pão com manteiga satisfazia;
hoje, come-se um boi, e a barriga vazia.
Havia paz, havia digestão,
as horas eram silenciosas, as tardes calmas.
e o corpo nutria-se da alma.
A minha memória olfativa pode reproduzir o cheiro dessa lancheira. A lancheira não tinha pilha, não falava nem acendia uma luzinha. Nós é que a iluminávamos com nossa poesia. Isso foi no tempo que menino brincava com o brinquedo, não via o brinquedo brincar. 
Sosígenes Bittencourt

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