Foto: Eloá e Nayara felizes
O homem é um ser, por natureza, carente de explicação. Indaga o mundo ao seu redor, até a morte. Agora, imagine confuso em relação a si mesmo, ou seja, sem explicação sobre o que lhe está acontecendo. O rapaz que, em Santo André, protagonizou a recente tragédia, atirando na cabeça de sua namorada e de sua amiga, depois de mantê-las seqüestradas durante mais de 100 horas, era prisioneiro de si mesmo. Não conseguia se libertar de uma paixão que o torturava, não entendia o que estava acontecendo dentro de si mesmo. Tanto que atirou na namorada, o objeto da paixão, e atirou também em sua amiga, que não tinha nada a ver com o caso. A polícia, por sua vez, não pode ser totalmente reponsabilizada porque se viu envolvida num tema que cientificamente desconhece: a paixão. Sentir paixão é comum, entendê-la é matéria de estudo, controlá-la é questão de tratamento. O psiquiatra e psicanalista paulista Rubens Coura concedeu entrevista à ISTO É, em 2002, defendendo a tese de que “paixão é doença”. E explica: “A paixão termina em muito ódio, rancor e muitas vezes em morte”.
Quando Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos, atirou na cabeça de Eloá Cristina Pimentel, de 15, poderia ter poupado a vida de sua amiga, Nayara Rodrigues da Silva, também de 15. Observe-se que a polícia jamais poderia imaginar que ele tentaria contra a vida de Nayara, tanto que a mandou de volta ao cativeiro, atendendo ao pedido do criminoso. Em resumo, Lindemberg estava louco, e a polícia não entende de loucura. Nesse momento, por exemplo, há mulheres dormindo ao lado do seu futuro assassino.
Sosígenes Bittencourt