Parece estranho, mas o Recife é a cidade que mais toma uísque no mundo, ou seja, é uma cidade “uisquisita”. Deve ser porque os bebarrões da Veneza Brasileira não bebem em doses homeopáticas, como os norte-americanos, comem com farinha. Tem até revelação: Minha vida é um litro aberto. São os chamados (desculpem o pernosticismo) dipsomaníacos. Talvez, seja falta de educação, pois odeiam professor e adoram Teacher. Perigoso é você tomar uma talagada de uísque “made in Recife” e ficar se vazando.
E eu vou mais adiante. Tem lugar para se tomar mais cana do que em Recife? Aliás, nos dois sentidos: pinga e xadrez. Quando perguntei de que tamanho era o Aníbal Bruno, um analfabeto me respondeu: - Sei não, viu, mas é o maior da América Latrina. Que porcaria!
Cerveja, nem se fala. E ainda dizem que vão tomar uma cervejinha. As avenidas amanhecem azedas da fermentação da sujeita e a Lei Seca já foi atropelada pela secura de beber. Bafômetros, etilômetros, alcoolemia são palavrões diante da Lei Molhada. Depois, descobriram que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, muito menos botar a boca onde não quer. Também ouviram dizer que uísque é bom para o coração, e vinho é o gari das coronárias. Só que os bebuns não ligaram para a dose, exagerando na medicação.
E tem bebarrão de todo naipe. Tem o que bebe porque está alegre e o que bebe para ficar. Tem o que bebe para esquecer a conta, o que bebe para tirar mulher pra dançar e o que bebe para bater na mãe das crianças. Tem o que bebe para faltar ao trabalho e o que bebe para renovar Auxílio-Doença. E tem aquele que bebe porque não tem mais jeito. Um dos mais pitorescos é o que bebe para comemorar a resolução de ingressar no A. A. E o mais engraçado é o que deixou o vício, mas ficou a carinha de cachaceiro. Um entrou na farmácia e pediu um flaconete de Epocler com uma tripinha de porco. Esqueceu que havia deixado de beber. Enfim, o difícil não é beber nem deixar de beber, o difícil é beber controlado. Quem bebe controlado não é alcoólatra e, em geral, é pirangueiro.
Sosígenes Bittencourt
7 comments:
De chofre, lembrei-me Carlors Pena Filho que dizia: São trinta copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Falava o poeta aos sensíveis e também inspirados leitores. Mário Quintana dizia: Quem gosta de poesia também é poeta.
Mestre Vinícius já dizia: o uisque é o melhor amigo do homem. O uisque é um cachorro engarrafado.
Depois do cão, o melhor amigo do homem é o violão.
Ao comentarista inicial, que costumeiramente usa a alcunha de "maluco beleza, consciente e/ou não identificado", gostaria de dizer o seguinte: seus comentários são pertinentes, cabíveis e incisos. Certamente embasados numa vivência diária de alguém que frequentava o primeiro andar do Savoy, e se deleitava ao som do piano do maestro Guimarães. Tudo isso, entre a Av. Guararapes e a Mathias de Albuquerque. Sim, bem juntinho havia o Café Nicola e na Mathias,as deliciosas coxinhas do Estoril, chic como as boas cantinas portuguesas.
Dryton, infelizmente nunca frequentei o Savoy, mas meu acesso ao grandioso Pena Filho é devido ao gosto literário. Apesar de ter cursado Letras, na faculdade nunca falaram-me de tão extraordinário poeta. Um fato engraçado é que 90% da turma de Letras detestam a leitura. Inda mais, querem incentivar seus alunos a lerem.
O mundo nunca leu e escreveu tanto como depois da internet, até os semi-analfabetos vivem lendo e escrevendo, o descuido, porém, é histórico com a leitura impressa, o livro, e o relaxamento com a Língua Portuguesa. Daí, surgir o "portunet" ou "internetês", essa linguagem cifrada para descartar o estudo da Gramática Normativa. Uma bomba de retardo que irá explodir lá nos Vestibulares, dentro das Universidades e na vida profissional de cada um.
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