Tuesday, January 11, 2011

Shopping e Pobreza

Impossível falar em Shopping sem pensar nos pobres. Sobretudo, porque os pobres de hoje também gostam de Shopping Center. E ai de quem tenha o topete de chamar alguém de pobre. Cuidado com a faca peixeira.
Antigamente, pobre era mais humilde, morava em seu cantinho e pagava suas contas em dia. Os meninos iam pra escola, ou trabalhar cedo pra ganhar um dinheirinho. As meninas sentavam de pernas juntinhas e mãos enclavinhadas sobre os joelhos. Eram geralmente virgens, casadoiras e versadas em afazeres domésticos.
Pobre já deu matéria pra romance, filme e até poesia. Ser pobre era ter passaporte garantido para a Eternidade. Era mais fácil um pobre passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus, diziam os carolas. Pobre tinha status espiritual.
Hoje, pobre quer ser chamado de tudo, menos de pobre. É discriminação braba, prejudicial ao status social. Por isso pobre ficou perigoso, malvado, achando que é pobre porque você é rico. Ele não quer apenas o seu celular, ele quer matar você. Ninguém fala mais bem de pobre. Pobre virou lixo social.
Pobre não tem bairro, mora em todo lugar, dorme na sua calçada, são muitos. Proliferam que nem cogumelo em madeira encharcada. E não precisam de projetos, explicações, dialética, precisam urgentemente de comer. Pobre mundo, com tanto pobre. Ninguém consegue mais dormir em paz nem ser feliz com tanta pobreza. Mas, enfim, em tempo de Shopping, quem estará preocupado com pobre?
Pobre abraço!
Sosígenes Bittencourt

5 comments:

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS said...

Bela reflexão e excelentes colocações.
O que o professor disse é exatamente o que ocorre.
Pobre, antigamente, era até motivo de orgulho:
"Eu sou pobre mas sou limpinho." "Eu sou pobre mas sou honrado." "Pobreza não é doença." "Sou pobre mas sou trabalhador."
Há anos deixei de ouvir estas frases.
O sentido da palavra pobre baixou de classe social.

Rita de kassia said...

Adorei a reflexão,realmente essa sociedade de burgueses de salário mínimo não quer ser chamada de pobre. Ainda bem que aqui em casa essa novidade ainda não chegou meu pai gosta das coisas como antigamente, e se orgulha muito da sua classe social e melhor ser pobre e honesto do que rico ladrão.

Sosígenes Bittencourt said...

Aliás, a grande revolta da pobreza é a impunidade dos ricos. E com a internet, que desnudou a corrupção, a rebelião dos pobres tende a aumentar. As penitenciárias estão abarrotadas de miseráveis, aviõezinhos do tráfico, maconheiros e pequenos larápios, matriculados na escola do crime. Atribui-se ao Barão de Itararé a seguinte reflexão: "Ou nos locupletemos todos, ou moralizemos a Nação."
Decepcionante abraço!

Anonymous said...

Não podemos esquecer que pobre também gera lucro$. O sistema capitalista teria um rombo imenso se eles fossem extintos. Exemplos: quem nunca viu um pobre pagar abusivas prestações de um sofá ou sofrer um colapso ao ver a conta d'água etc etc etc... Quanto a essa questão de classe social, tenho a seguinte opinião: burguesia mesmo, somente a européia e a norte-americana. No terceiro mundo(onde vivemos) a sociedade anda falida, sendo assim, a burguesia também. No mais, é cada um por si e ninguém por ninguém. Salve-se quem puder. Brutal abraço.

Sosígenes Bittencourt said...

Criei até uma frase, montada num fato real: Tomou um choque, agarrado na conta da luz.
Não há riqueza que se mantenha, em meio a uma legião de miseráveis.
O professor português Rui Canário diz que "Vivemos em um profundo desenvolvimento tecnológico, entretanto numa proporcional imaturidade política e social."
Ademais, é preciso frisar que dinheiro, hoje em dia, é ciência. Nunca houve tanta chance de se ganhar dinheiro, mas nunca os riscos foram tão grandes de perdê-lo.
Burguesia burra é coisa do passado. Hoje, burguês burro não é burguês, é burro.
Equivocado abraço!