Ontem, Raul Gil não tinha o que fazer, resolveu dar uma cutucada no coração da Jovem Guarda. Botou Vanusa numa poltrona e danou-se a homenageá-la. Foi do cara estrebuchar de emoção. Olhei a vida pelo retrovisor do tempo e vi um amontoado de mortos que me foram caros, senti-lhes os perfumes. Foi de umedecer o rosto, faiscar na medula, como diria o poeta mineiro de Sentimento do Mundo. O maior desafio foi assistir a Caio Mesquita soprar no saxofone “Histórias de um palhaço”, de Antônio Marcos e Sérgio Sá. Até meu pai, septuagenário, do tempo de Sílvio Caldas e Carlos Galhardo, se emocionou. Lembrei-me de minha primeira namorada, do tempo em que se beijava de boca fechada e namorar nu era pecado. Foi um momento poético, de transcendência. Era algo além de Vanusa, era a noção do tempo, da vida que passa. Era a arte, este fantástico meio de educar a sensibilidade, trabalhar o afeto.
Eita, meu Deus! Comunguemos com Horácio a amargurada brevidade da existência: Eheu! fugaces labuntur anni. (Ai de nós! os anos correm céleres.)
Eita, meu Deus! Comunguemos com Horácio a amargurada brevidade da existência: Eheu! fugaces labuntur anni. (Ai de nós! os anos correm céleres.)
3 comments:
Sosígenes, eu imagino a sua emoção...
Somos do tempo em que música era cultura, apesar de não gostar da letra da música: "Geni e o Zeppelin, de Chico Buarque. Acho a letra de caráter preconceituoso e julgador. Mas, enfim, foi Chico quem gravou...
Cada qual com o seu gosto musical. Pra mim, música tem que ter uma boa letra.
Um abração!
O programa de Raul Gil parecia uma malvadeza. Um mergulho no túnel de uma geração. Foi insuportavelmente romântico.
A música por si só já é um deslumbramento, é muito lamentável quando uma letra não honra a melodia.
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