Sunday, May 03, 2009

Fala, Vitória

Mês de Maio

O mês de Maio sempre foi um mês dedicado à mulher. Mês de Maria, de se celebrar o namoro e o noivado, místico período entre os prazeres da carne e o sacrifício do espírito, o desregramento e a temperança, a fornicação e a castidade. Mês de se respeitar a mãe e desobedecer-lhe. Recebido com ovação, o Papa veio condenar tudo que é vontade do corpo e seduz o cérebro. Lembra-me O Êxtase de Santa Teresa D’Ávila, trespassada pela seta de um anjo, magnificamente burilada por Bernini, no século XVI.

Quem danado agüentava, em Vitória de Santo Antão, embora calma, sem os agitos nem a desobediência reinante de hoje, controlar-se, com a popularização da minissaia? De repente, quando não se podia ver um tornozelo, lá estavam os joelhos das meninas do Colégio Municipal e do Colégio das Freiras à mostra. Naquele tempo, o desejo vinha embalado pelas músicas de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps e The Fevers, o que emoldurava o apetite com uma vaga sensação de amor. Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo, porque a Medicina ainda não mapeara o cérebro e a endocrinologia cabia em algumas folhas de caderno. Mas, só Deus sabe o quanto a enxurrada de hormônios fustigava a pele da adolescência de tanta emoção. Os namoros eram na calçada, fiscalizados, com hora marcada. Cinema, só com acompanhante, geralmente um irmãozinho bobo, comedor de bombom, mas fuxiqueiro, cujo perigo residia em contrariá-lo. Os cinemas eram o calorento Cine Braga e o inesquecível Cine Iracema, espaçoso, onde se podia procurar um lugar mais reservado para beijar. Todo mundo ficava tomado, neste mês de maio, de uma expectativa de noivado, casamento e maternidade. Festejava-se a mãe, a namorada e se fazia plano para o futuro. Chegávamos a imaginar como seriam nossos filhos. Se pareceria com a mãe ou seria uma escultórica mistura dos olhos de um com o nariz do outro. Eita, mundo velho!

Sosígenes Bittencourt

3 comments:

maluco consciente said...

Respeitável professor Sosígenes, gostaria que o senhor tirasse-me uma dúvida: "plano para o futuro" é pleonasmo?

Unknown said...

Como era bonito ver a cidade tomada pelas cores vinho, azul e branco das fardas do Colégio 3 de Agosto e do N.Sra. das Graças, quando ambos abriam os seus portões no horádio do meio dia. E, eu fazia parte daquele cenário.

Um abração!

Sosígenes Bittencourt said...

1)Realmente não se faz plano para o passado nem plano para o presente. Planeja-se o futuro no presente. Bem, para resumir, poder-se-ia dizer que trata-se de um "pleonasmo" aceitável. Limpar bem limpinho, arrumar bem arrumadinho, fazer bem feitinho são pleonasmos aceitáveis que eu até os diria "enfáticos".
2)Quanto à observação de minha aDORÁvel e saudosista DORA, vale frisar que, hoje, o Colégio Municipal 3 de Agosto, comparado com o de nossa época, está parecendo uma penitenciária.
Forte abraço!