Mero direiro de espernear

Redijo esta crônica, de madrugadinha, mas confesso que nem queria acordá-los com semelhante bom dia. É que, por causa de um grilo, reli coisa mais assustadora. O cricrilar me colocou no meio do quarto, munido de inseticida, e perdi o sono. Insônia de quem lê e escreve é uma patota: motivo para ler e escrever. Só que me deparei com coisa mais assustadora que um grilo cantante. O voo dos parlamentares com o dinheiro de quem vai a pé. Como se não bastassem os 6 mil reais que gastam de telefone, mortos concederam passagens aéreas a vivos, porque já não podiam mais voar. Foi o caso, por exemplo, de cota do senador Ramez Tebet (PMDB-MS) que faleceu no exercíco do mandato, convidado a morrer em 2006. Segundo bisbilhotagem, duas ex-servidoras teriam voado com bilhetes da cota de ex-Ramez, de Curitiba para Assunção, ali no Paraguai. Coitados dos cheira-cola e dos aviõezinhos do tráfico. Tontos e correndo o risco de viajar, a bordo de camburão, ao presídio mais próximo. Porque Lula diz que cota aérea é normal. Realmente, os anormais somos nós, os aéreos somos nós. Nem nos damos conta de que viajamos na maionese. Coitados dos grilos que morrem porque cantam, dos maníacos que se assustam com insetos e botam pra ler besteira. Conclamarei os jornalistas, os fuxiqueiros e demais línguas ferinas a não mais meterem o bedelho na vida dos parlamentares. Também mandarei bilhete ao senador Cristovam Buarque, agora com essa mania de sugerir plebiscito para saber se o povo quer democracia com Congresso, ou sem Congresso. Ademais, que não fiquem grilados com isso, não percam o sono. Afinal, resmungar é mero “jus esperniandis”, ou seja, mero direito de espernear.
Sosígenes Bittencourt