Sunday, November 01, 2009

Fala, Vitória

ATROPELAMENTO
Semana passada, vi uma cena que preferiria não ter visto. Foi no horário do almoço, quando eu escalava a Praça do Livramento. Um menino atropelou um carro e estava em posição fetal sobre o asfalto. Sim, porque disseram que o carro vinha devagar e o menino atravessou a rua correndo. É bem provável. A rua é larga, lá em frente ao tanque do jacaré. Porém, o pior não foi o atropelamento, foi o socorro. A população se juntou em torno do menino e ninguém fazia nada. Além do asfalto pegando fogo, a procissão barulhenta dos curiosos. Diziam que em atropelado não se pega, é perigoso. Também não se sabia se haviam chamado uma ambulância nem a que horas chegaria. Tive que me meter. "Olha, pessoal, pega esse menino com jeito e leva para o hospital; senão, quando a ambulância chegar, já será missa de sétimo dia". Aí, foi que uns marmanjos se tocaram, puseram o menor numa Kombi e arrepiaram carreira para um Pronto Socorro. Todos nós sabemos que é perigoso botar a mão em atropelado; que o socorro pode merecer, por exemplo, imobilização da coluna cervical. Contudo, para isso, seria preciso socorro imediato. Porque o acidentado pode estar em contagem regressiva, dentro da janela terapêutica, e vir a falecer por falta de atendimento. E aí? Dá para ficar contemplando uma criança estatelada no asfalto, fazendo alvoroço, esperando por um traumatologista? Com a palavra, uma genitora que visse um filho naquele estado.
Sosígenes Bittencourt

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