Verônica acusa Márcio de não trabalhar, virar um monstro quando usa cocaína, espancá-la nas horas vagas e dorme agarradinha com o seu algoz. Não desgruda de quem descreve como psicopata.
Márcio morre de ciúme de Verônica porque Verônica é uma fankeira cobiçada, de pele aveludada, cabelos alegóricos e dança com as coxas roliças de fora.
Verônica diz que não consegue deixá-lo porque o ama. Ama o seu brucutu de estimação. Deve ser a tal da paixão. Quem dorme com o seu carrasco amoroso, pode estar dormindo com o seu futuro assassino.
Márcio aparece todo queimado, cheio de bolhas, com os olhos arregalados, acusando Verônica de tê-lo torturado com o filho e o padrasto.
Verônica diz que é mentira, que ele antes de ir para a delegacia, passou na sua casa e, como de hábito, passou a mão no que era dela, como se não fosse seu marido, fosse um ladrão.
Márcio está sendo tratado numa Unidade de Terapia Intensiva, todo tostado e doido para ver Verônica.
Verônica está chorando, aperreadíssima, clamando por justiça, mas, sobretudo, pela perspectiva de perder Márcio para sempre.
O sofrimento não é maior pelas agressões, pelas marcas indeléveis das brutalidades, pela vergonha, é misericórdia e saudade, o melodramático saldo da paixão.
Verônica é a ninfa de Márcio. Márcio é o galã de Verônica. São os olhos do coração.
Quem sofre de paixão, também chora ao ver a agonia de Verônica, e Márcio todo queimado, de olhos esbugalhados, na televisão.
Apaixonado abraço!
Sosígenes Bittencourt
2 comments:
A paixão é egoísta. O amor é solidário. Quem ama procura fazer o outro feliz. Nesse caso, a paixão encaminhou-se para uma tragédia nada romântica. Digamos que seja uma versão de Romeu e Julieta adaptado ao estilo tupiniquim, com muita paixão e tortura. Trágico abraço.
Paixão vem de "pathos", que significa "passivo", em oposição a "açao". Stendhal descreveu o "amor" como uma febre, que nasce e se extingue, independente da vontade. Deveria estar se referindo ao "amor-paixão". Apesar de todo o sofrimento, Verônica revelou que nunca conseguiu deixar Márcio. Era a febre que não passava.
Patológico abraço!
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