Thursday, February 24, 2011

Morte de Geane - 08/04/2007

O seu rosto esmaecido nesta foto transparece que minha amiga já não habita este mundo. Contudo, revê-la era tudo o que eu queria. Ah! como seria bom que os mortos voltassem por um minuto, para nos revelar seus segredos. Com o mesmo ar, a mesma voz, o tom, o gosto, aquele vestido.

Conheci Geane num comício. Era uma época de campanha política. Mais nova, tinha 4 filhos menores, oriundos de Catende, onde convivera com o pai das crianças. Pouco conhecida, residia na Vila Mário Bezerra, com sua mãe. Desde que a coloquei para distribuir a microrrevista Fragmentos, começou a ficar muito íntima no centro da cidade. Simpática e prestativa, levei-a para os lugares que frequentava, sempre recebendo elogios pela sua participação, muito embora não fosse um contrato de trabalho, mas uma parceria, não havendo vínculo empregatício nem remuneração estabelecida. Aos poucos, fui descobrindo-lhe alguns dotes, como cortar cabelo e dançar. Uma das reclamações que ouvia de sua mãe, dona Rode, era de que não gostava de estar em casa, quando tinha 4 menores para cuidar. Naturalmente, passara um bom tempo de sua adolescência enclausurada, sem tempo de se divertir, e agora havia surgido uma oportunidade. Em resumo, depois que passou a namorar um velho amigo meu, continuou querendo levar uma vida muito solta, embora enfrentando severas reclamações do seu companheiro. E de tantas andanças, tanta ânsia por diversão, perde a vida, abraçada com o seu irmão, num desastre de motocicleta, em cima da pista. Contam que ia para uma festa no Cabo de Santo Agostinho. Contam que, quando já estava sem vida, o seu celular tocava; era o seu companheiro, querendo saber onde ela estava. Sabe-se que colidiram com um caminhão.
Não tive outra alternativa. Ainda de madrugada, fui vê-la na casa funerária. Depois, velar-lhe o corpo em sua casa e pervagar a via do sepultamento. A caminhada foi longa, sob o mesmo sol que a aqueceu tantos dias, pelas ruas que atravessou tantas vezes. Ainda agora ouvimos o repicar das colheres de pedreiro e o murmúrio de dor de sua mãe. Adeus, Geane.
Sosígenes Bittencourt

2 comments:

Unknown said...

Como sempre vc escreve td de acordo com oq e ou o que se passa vc e muito inteligente e quando escreve ou fala sobre algo ou alguem fala com segurança e com objetividade eu tenhoorgulhode ser sua amigaum abraço e nao esqueça de mim pois aonde estou sempre lembro de vc e vc faz parte da minha ehistoria um grande abraço meu amigo......

Sosígenes Bittencourt said...

Obrigado, Maria, mas eu gostaria de saber qual Maria é você das Marias que nos conheciam. Eu também sinto muito orgulho de ser amigo de quem se orgulha de ser meu amigo.
Amigável abraço!