Eu
sonhei que estava no Recife Antigo, na década de 80, às tantas da madrugada.
Parava na esquina, puxava um Hollywood do bolso e acendia. Depois de soltar uma
baforada, ficava pensando: por aqui já passou muita gente que já morreu.
Ali,
antigamente, tinha um bocado de cabaré. Era bom demais. Rua da Moeda, Vigário
Tenório, Torre Malakoff... O Oceano Atlântico ficava ali na frente, ventilando,
cheiroso, fazendo uma zoadinha. Tinha o Tonny Drink’s,
o Capitólio, Night and Day... As meninas eram esguias, vestidinho curtinho,
tamanquinho e rabo de cavalo. A boite estava aromática, ervas pelo chão, uma
bola prateada girando à luz negra. A gente pagava 5 mil réis e tinha direito a
uma dose de Ron Montilla com um limão escanchado na beira do copo. Recebia,
também, um saco de pipoca milho em flor. Aí, veio uma camarada branquinha,
sentou-se ao meu lado, apoiou o queixo sobre as mãos enclavinhadas e perguntou:
- Tudo bem?
E eu, todo amostrado: Melhorou muito!
Pegou na minha mão, deu um cheiro na minha bochecha e me tirou pra dançar. A gente dançava solto, uns ritmos quentes, americanos. Quando ela ria, o rosto ficava todo iluminado, parecia que eu estava sonhando. Eu era maneiro, o sangue desintoxicado, todo novo. Nunca me esqueço desse sonho que já sonhei tantas vezes. Nunca me esqueço de que, quando fomos dormir, ela escovou os dentes. É a vida. Nem tudo a gente pode contar. O sexo ficou para a cama, e os segredos do amor, para o coração.
Onírico abraço!
E eu, todo amostrado: Melhorou muito!
Pegou na minha mão, deu um cheiro na minha bochecha e me tirou pra dançar. A gente dançava solto, uns ritmos quentes, americanos. Quando ela ria, o rosto ficava todo iluminado, parecia que eu estava sonhando. Eu era maneiro, o sangue desintoxicado, todo novo. Nunca me esqueço desse sonho que já sonhei tantas vezes. Nunca me esqueço de que, quando fomos dormir, ela escovou os dentes. É a vida. Nem tudo a gente pode contar. O sexo ficou para a cama, e os segredos do amor, para o coração.
Onírico abraço!
Sosígenes Bittencourt
1 comment:
Aliás, não nos esqueçamos do Chanteclair e o Moulin Rouge, em homenagem aos franceses, nem do Nigth and Day, redutos dos poetas e boêmios da Zona de Baixo Meretrício do Recife Antigo. As mulheres eram verdadeiras atrizes. Imitavam o amor com tanta perfeição que muitas foram resgatadas pela amigação. Isso foi no tempo da blenorragia e da cura com Tetrex. Não havia essa doença quem vem do macaco e remete a vítima à Terra dos Pés Juntos.
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