Torcedora torturada por policiais

Francamente, mas há certas atitudes do animal dito racional que nos envergonha de fazer parte dessa espécie da escala zoológica. Esse espancamento a golpes de cassetete, perpetrado pela polícia matogrossense, em torcedora, durante partida de futebol, é uma desgraça! Parecia que o Diabo rondava as almas em Rondonópolis, numa contenda entre os desunidos chutadores do União Rondonópolis e Vila Aurora, torcedores ensandecidos, lampiões fardados, o diabo-a-quatro. A infeliz meteu a canela fina num policial e tomou uma saraivada de pau tamanho família. Observemos a disparidade qualitativa e quantitativa, para nos indignarmos até as cerdas da alma. Um bando de homens contra uma mulher, munidos de cassetete. Não há prova mais cabal de que nossa polícia exagera e, ao invés de nos inspirar confiança, nos assusta. Porém, como temos duas constituições, uma redigida e uma mental, anda prevalecendo a mental. O que na escrita não pode, na mental pode. Há inúmeros Neros e Calígulas aplaudindo o massacre ridículo e imoral daqueles policiais, machistas empedernidos contando goga, pegando carona no espancamento de uma fêmea numa improvisada arena nacional. O uso abusivo, imoderado da força, no dantesco episódio, pode ser tranqüilamente considerado tortura sob todos os aspectos, mas no cérebro da população não passa de reação corretiva e normal. E se a torturada não tem eira nem beira, ninguém pagará um Padre Nosso de penitência. É uma desgraça!
Sosígenes Bittencourt