Saturday, September 06, 2008

Ter filho para quê?



Professor canadense diz que os casais procriam por inércia e uniões sem filhos são mais felizes e fazem bem ao planeta.
O canadense Jerry Steinberg vai logo avisando que gosta de crianças. Mas não em tempo integral. A gota d'água foi namorar três mulheres que tinham filhos. Desistiu de formar a própria prole ao ver que o cotidiano que inclui pequenos é cheio de limitações. "Não se pode ter uma conversa séria às 3 da tarde ou fazer amor às 10 da manhã", diz. Foi então que surgiu a idéia de fundar um clube de "pessoas sem filhos", o
No Kidding. Hoje, são 77 filiais em quatro países, totalizando 8 mil associados.
ÉPOCA - Não ter filhos não é impedir o ciclo natural da vida?
Steinberg - E por acaso nós levamos uma vida "natural"? Não estamos mais numa sociedade agrária, em que a criança era mão-de-obra barata na fazenda. Mais de 80% da população mundial vive em grandes cidades. As crianças não são mais um ativo, mas um rombo em seu tempo, em sua energia e em suas finanças.
ÉPOCA - Qual porcentagem da população tem filhos por motivos que o senhor considera corretos?
Steinberg - A maioria das pessoas tem filhos sem motivo, sem pensar. A resposta que sempre ouço é que aconteceu sem planejamento. Acho irresponsável, tolo e egoísta. Crianças são muito preciosas para vir ao mundo por acidente.
ÉPOCA - Por outro lado, a maternidade e a paternidade não são dons naturais, intrínsecos ao ser humano?
Steinberg - De modo algum. Ser boa mãe ou bom pai requer muito conhecimento, dom, habilidade, paciência, energia e tempo. Se você não tem isso, quais são suas chances reais de sucesso?
ÉPOCA - Qual é o impacto de filhos na vida de um casal?
Steinberg - Uma tremenda perda de liberdade. Não se pode mais fazer o que se quer, quando se quer. A espontaneidade morre. Perdem-se tempo, energia, dinheiro. Custa cerca de US$ 200 mil criar alguém do nascimento aos 18 anos.
ÉPOCA - Mas então não seria melhor rever a forma como se educam os filhos em vez de resolver não tê-los?
Steinberg - Há um problema no modelo adotado pela classe média. Antes os pais ditavam as regras, mas a mesa virou e agora são as crianças que mandam nos pais. Elas fazem o que querem em locais públicos e os pais se omitem, numa situação desagradável para os outros.
ÉPOCA - Por que ainda vemos com estranheza quem opta por não ter filhos?
Steinberg - Mudanças levam tempo. A aceitação de estilos de vida alternativos demora. Há 50 anos era inconcebível viver junto sem casar. Era pecado. Quem, em seu juízo perfeito, insistiria que tenha filhos uma pessoa que não quer, não tem como bancar e não saberá criar adequadamente uma criança?
(Época - 5 de agosto de 2002)

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