No último dia do ano, fui fazer uma visitinha a Gravatá, incentivado por Aninha Marques, atualmente fazendo locução na Rádio Metropolitana em Vitória de Santo Antão. Obrigado!
O centro da cidade estava movimentado, mas sem barulho, sem papel pelo chão, feira de mangalho, e outras poluições ambientais. No céu, parecia estar ligado um gigantesco condicionador de ar natural, promovendo abraços refrigerantes em cada esquina. Um cheiro de quintais, de jardins, de flores, frutas e folhas, revesando com um gustativo aroma de carne na brasa, frituras, doces, saladas, sucos, fustigando a língua, assanhando o estômago e provocando a imaginação.
Sentamo-nos por trás da igreja, naquela Varanda histórica, para degustar umas cevadas. Num instante anoiteceu. As luzes acenderam, e a cidade foi ficando iluminada, dando vontade de botar cadeira na calçada, para ver o povo passar, inalar o perfume das meninas. Mulheres que têm um jeito, uma pele e um rosto que só tem naquele lugar. Daí, eu chamar Aninha Marques de "um souvenir gravataense nas manhãs vitorienses". Arrisco até a repetir que quando envelhecer, vou morrer em Gravatá. Quero morrer sem alvoroço, para sentir calmamente a emoção derradeira da travessia final.
Depois, tomei o ônibus na rodoviária. Rodoviária é morada de saudade, inspira todo homem. E retornei para Vitória, mimado pelo balanço da viagem, meio entre dormindo e acordado, sem distinguir direito o que era sonho e o que era realidade. Tanto que saltei em Pombos.
- Professor, isso aí é Pombos.
- Desculpe, condutor, eu sou de Vitória - e reingressei no veículo, que mais parecia um edifício desfilando pela rodagem.
Sosígenes Bittencourt